Dia 10 de novembro de 2018, sábado, décimo dia de passeio, continuação da nossa programação em Lisboa. Os locais escolhidos foram: Chiado e Campo de Ourique. A maior parte deste passeio é possível fazer a pé. Iniciamos o dia pegando o metrô até a estação Chiado, depois pegamos um transporte por aplicativo até Campo de Ourique.
É um bairro tradicional de Lisboa e bastante movimentado. É um bairro para se explorar a pé, observando cada detalhe da sua arquitetura. Todas as vezes que vamos a Lisboa passamos por lá e em cada uma delas conhecemos ou apenas observamos com mais detalhe alguma coisa diferente.
Desta vez visitamos as igrejas, quatro para ser mais preciso, praças, museu, bares, teatros e livraria. Neste bairro destaco também várias estátuas de figuras ilustres.
Fomos de metrô e descemos na Estação Baixa-Chiado, quando saímos já nos deparamos com muitos atrativos da tradicional Rua Garrett, começando pela estátua de António Ribeiro, poeta e satírico do século XVI, contemporâneo de Camões.
Logo à frente, bastou levantar um pouquinho os olhos e lá estava a bastante conhecida estátua de Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa, sentado a uma mesa no exterior do centenário Café A Brasileira (vale a pena entrar para conhecer), imortalizado numa estátua de bronze de autoria de Lagoa Henriques.
Descendo um pouquinho a Rua Garrett, no sentido contrário à Praça Camões, está a livraria mais antiga do mundo em funcionamento, a Livraria Bertrand. Foi fundada em 1732 e instalada no Chiado em 1773, pertencendo à família Bertrand até 1876. Atualmente é a maior rede de livrarias de Portugal com 52 lojas. A do Chiado é estreita e comprida e cada um de seus espaços faz alusão a um grande escritor, onde é descrita a sua história e seus livros são exibidos na estante. Ao fundo tem um Café.
Na mesma Rua Garrett visitamos 3 igrejas: Basílica dos Mártires, Igreja de Nossa Senhora do Loreto e Igreja da Nossa Senhora da Encarnação. São três igrejas muito bonitas e a entrada é gratuita.
Igreja de Nossa Senhora do Loreto
Foi construída em 1518 a pedido da comunidade italiana, por este motivo é conhecida como Igreja dos Italianos. Aos domingos é celebrada uma missa em italiano. No terremoto de 1755 ela foi bastante afetada, tendo sido reconstruída nos anos seguintes.
Esta igreja tem uma nave central e doze capelas laterais, revestidas em mármore italiano, em estilo barroco, que apresentam os doze apóstolos. No alto da fachada tem a imagem de Nossa Senhora do Loreto e mais abaixo, as armas pontifícias, de autoria de Borromini, com dois anjos ao lado. Possui ainda um órgão de tubos datado do século XVIII.
Igreja de Nossa Senhora da Encarnação
Foi inaugurada em 1708 e totalmente destruída no terremoto de 1755. Sua reconstrução foi até 1873. Possui nave única e quatro capelas em suas laterais. Seu interior tem estilo barroco e rococó. Os destaques são a escultura de Nossa Senhora da Encarnação, de autoria de Machado de Castro, além das pinturas no teto.
Dedicada aos mártires que participaram da reconquista da cidade do domínio mouro. Em estilo barroco e neoclássico, foi criada em 1147, logo depois de D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, ter conquistado Lisboa dos Mouros. Também foi totalmente destruída no terremoto de 1755 e reconstruída em 1784.
Fernando Pessoa foi batizado ali em 21 de julho de 1888. Há uma pequena placa, na lateral exterior, com esta informação.
Escrevendo agora observei duas coisas: primeiro, que não tenho fotos do interior da igreja e não me recordava o motivo. Consultando o site da igreja verifiquei que precisa de autorização para fotografar. Outra observação é que existe visitação guiada, mas não descobri nem horários e nem se é paga.
A praça está bem ao lado das Igrejas de Nossa Senhora da Encarnação e do Loreto.
O destaque da praça é a estátua em homenagem a Luís Vaz de Camões, autor português do poema épico Os Lusíadas. A estátua foi feita em bronze pelo escultor Vitor Bastos, tem 4 metros de altura e foi inaugurada em 1867. Ela é rodeada de outras 8 estátuas que representam escritores, matemáticos e estudiosos portugueses: Fernão Lopes, Pedro Nunes, Gomes Eanes de Azurara, João de Barros, Fernão Lopes de Cantanhede, Vasco Mousinho de Quevedo, Jerônimo Corte-Real e Francisco Sá de Menezes.
O calçamento da Praça é de pedras portuguesas e tem elementos que lembram Os Lusíadas, como naus e sereias.
Se não comeu nada no Café a Brasileira ou no Café da Livraria Bertrand você tem duas outras opções na Praça: A Padaria Portuguesa ou a Manteigaria (pasteis de nata).
O bonde elétrico 28 é uma boa opção para chegar ao Chiado. Ele é amarelo e com o interior de madeira. Nele é possível percorrer os bairros históricos partindo da Praça Martim Moniz. O elétrico passa por Alfama, atravessa a Baixa, o Chiado, Santos e chega em Campo de Ourique, pertinho da Casa Fernando Pessoa (mais abaixo publiquei sobre ela).
Distante 500 metros da Praça Camões está o Largo Trindade Coelho. Subimos pela Rua da Misericórdia até o Largo para conhecer o Museu e a Igreja de São Roque.
No caminho fomos apreciando os prédios e um deles foi o Teatro da Trindade.
Apesar de já termos ido ao Chiado algumas vezes, ainda não conhecíamos esta pequena Praça. Os destaques aqui são a Igreja e o Museu São Roque.
No século XVI chamava-se Largo de São Roque e depois de 1987, após a colocação no local de uma estátua em homenagem aos cauteleiros, passou a ser conhecido como Largo do Cauteleiro e ponto de encontro para incursões na noite do Bairro Alto, entretanto, desde 1913 o Largo de São Roque é oficialmente chamado de Largo Trindade Coelho em homenagem ao escritor e político José Francisco de Trindade Coelho. No ano de 1913 teve início um movimento pela troca dos nomes de praças e ruas, quando passaram a substituir os nomes dos santos pelo nome dos personagens republicanos.
No Largo Trindade Coelho foi inaugurada em 18 de novembro de 1987, dia do 204º aniversário da Loteria Nacional, uma estátua de bronze em homenagem aos cauteleiros (vendedor ambulante de bilhetes de loteria), de autoria de Fernanda de Assis.
Outra estátua importante no Largo é a estátua do Padre Antônio Vieira e os indígenas. Foi inaugurada em 2017, também em bronze, de autoria de Marco Fidalgo, que ganhou um concurso para construção da estátua.
Fernando Pessoa considerava o Padre Antônio Vieira o “imperador da língua portuguesa”.
Logo que chegamos ao Largo Trindade Coelho fomos para a Igreja de São Roque, mas não foi possível entrar porque estava sendo celebrada uma missa, sendo assim, fomos primeiro ao Museu, que fica ao lado. A entrada é paga, mas é bem baratinha. Oferecem também visita guiada. Confira as informações.
O Museu de São Roque é um museu de Arte Sacra e me surpreendeu muito, vale a pena visitar. Não é muito grande e em pouco mais de 30 minutos dá para ver tudo. Dentro do Museu tem um pequeno Café.
As obras do Museu foram herdadas da Santa Casa da Misericórdia e apresentadas ao público pela primeira vez em 1898. O Museu foi aberto em 1905.
É uma igreja com a fachada bem simples e o interior maravilhoso. Não costumo comparar igrejas, pois cada uma tem sua importância e seu estilo, porém esta de São Roque é é uma das mais bonitas de Lisboa.
Na lateral tem várias capelas: Mor, Nossa Senhora da Doutrina, São Francisco Xavier, São Roque, Santíssimo Sacramento, São João Batista, Nossa Senhora da Piedade, Santo Antônio de Lisboa e Capela da Sagrada Família.
Também tem vários altares: Anunciação, Relíquias, Santíssima Trindade e Presépio.
Destaco ainda na Igreja o teto, a Sacristia (acabei não conhecendo) e o órgão.
O texto a seguir extraí do site do Museu/Igreja e explica muito bem a origem desta Igreja:
“No início do século XVI, encontrava-se neste local, junto à antiga muralha fernandina, um cemitério onde eram sepultadas as vítimas da peste. Sendo conhecidos em toda a Europa Meridional, os milagres de São Roque contra este flagelo, em 1506 o rei D. Manuel I solicitou a Veneza uma relíquia deste santo, a fim de proteger a população de Lisboa. Para a veneração da relíquia, foi construída pelos habitantes da cidade uma ermida junto ao cemitério dos pestíferos.
Em 1540, a Companhia de Jesus chega a Portugal, a convite do rei D. João III, e inicia a partir de Lisboa a sua atividade missionária, tendo escolhido o espaço da antiga ermida de S. Roque para a construção da sua primeira Igreja e Casa Professa.
Em 1553, é concedida à Companhia de Jesus a posse da ermida, procedendo-se, doze anos mais tarde, à construção da Casa Professa e da Igreja de São Roque, sede da Ordem em Portugal. No interior da atual igreja foi, logo de início, reservada uma capela lateral para o culto de São Roque, a qual foi confiada à Irmandade desta invocação. Assim, a memória de São Roque ficaria para sempre ligada à história deste local.”
O nosso próximo destino foi mais um Largo, o do Carmo, distante apenas 300 metros dali.
Desta vez passamos rapidamente pelo Largo do Carmo, mas é um local com várias atrações, começando pelo elevador Santa Justa. Para chegar no Largo você pode subir da Baixa para o Largo pelo elevador (que é um transporte público). Eu, particularmente, não acho interessante, pois é pago, tem fila e acaba-se perdendo um bom tempo. Eu me contento em bater uma foto do elevador e, indo ao Chiado, visitar o Largo, como fizemos, e aproveitar a vista do mirante do elevador, de onde é possível fazer belas fotos da cidade. Mesmo que você não vá ao mirante (é pago separadamente do elevador, mas não é caro) ainda assim tem uma bela vista nas proximidades dele.
No Largo você pode visitar as Ruínas do Convento do Carmo, construído no século XIV, onde se encontra atualmente o Museu Arqueológico do Carmo. Para consultar horários e preços dos bilhetes clique aqui. Não visitamos ainda o museu.
Continuando, no centro da Praça tem o Chafariz do Carmo construído em 1771 cercado de jacarandás. Ele era alimentado pelo Aqueduto das Águas Livres.
Outro atrativo é o Quartel do Carmo, pertencente à Guarda Nacional Republicana, que teve um papel importantíssimo na Revolução dos Cravos de 25 de abril 1974 por ter sido escolhido por Marcello Caetano para se refugiar da revolução, mas os homens de Salgueiro Maia foram a seu encalço. Foi o local da rendição do Estado Novo perante os militares do MFA. Para perpetuar este momento, encontra-se no chão do largo uma inscrição dedicada a Salgueiro Maia. A visita é ao Museu. Fiz uma visita a este museu na primeira vez que estive em Lisboa, já faz bastante tempo, desta vez passamos apenas na porta.
Do outro lado do Convento está o antigo Palácio Valadares erguido onde foi fundada a primeira universidade portuguesa no tempo de D. Dinis, antes de ser transferida para Coimbra. Atualmente o prédio está fechado.
Aqui também está localizada a Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, que pode ser confundida com um prédio residencial. Não cheguei a entrar na Capela.
Já era um pouco tarde e resolvemos almoçar no Largo do Carmo mesmo. Escolhemos o Restaurante Internacional – comentários do Tripadvisor. Achei razoável, não era caro e a comida estava boa, mas nada demais.
Depois do almoço, meus pais voltaram para casa e eu, minha esposa e minha filha pegamos um Uber para o Bairro Campo de Ourique.
Não escolhemos este bairro para fazer turismo, na realidade fomos conhecer o bairro como uma opção de moradia para minha filha, que mora em Lisboa, e também aproveitamos para encontrar um casal de amigos que mora na cidade.
Nos surpreendemos. Gostamos muito do bairro e para não ser diferente das nossas referências quando vamos visitar algum local novo, procuramos conhecer a Igreja, o Mercado e a Praça. Aproveitamos para visitar também a Casa Fernando Pessoa, hoje um pequeno museu.
É um bairro tranquilo, que mais parece uma pequena cidade. Ele tem vida própria, com um bom comércio local e tipicamente residencial.
O Mercado foi inaugurado em 1934 e remodelado nos anos de 1991 e 2013. Não tem como não comparar este Mercado com o da Ribeira. Este é menor e muito mais aconchegante, menos turístico. Tem um ambiente muito bom, com bancas tradicionais como de um mercado comum de frutas, verduras, legumes, peixes, doces e queijos e alguns bares e restaurantes. Passamos um bom tempo lá conversando com amigos. Tudo muito limpo e organizado. Os comentários do Tripadviser são parecidos com os meus. Uma opção, que já comentei acima, é ir até lá no elétrico 28, pegando na Praça Martin Moniz (ponto inicial), cujo trajeto termina em Campo de Ourique.
O Mercado de Campo de Ourique fica na Rua Coelho da Rocha, 104. Seu horário de funcionamento é de segunda a quinta e domingos das 10 às 23 horas, e às sextas e sábados das 10 à 1 hora da manhã.
Igreja em estilo neogótico em homenagem ao Condestável D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431), também conhecido como São Nuno de Santa Maria. Foi projetada pelo arquiteto português Vasco Regaleira e inaugurada a 14 de agosto de 1951.
O Condestável também é lembrado com esculturas no Arco da Rua Augusta, na Praça do Comércio em Lisboa, e no castelo de Ourém.
Ao redor da Igreja tem um bonito jardim, inaugurado também em 1951, uma estátua do Padre Francisco Maria e um painel de cerâmica denominado o Bairro.
Conhecido também como Jardim da Parada (antigamente era um antigo terreiro da parada de um quartel). O nome oficial do jardim é o do poeta, escritor, professor e segundo Presidente da República Portuguesa Teófilo Braga.
No jardim tem coreto, lago, parque infantil, banheiro público, uma estátua de Maria da Fonte, colocada em 1920 e da autoria de Costa Motta (tio), Memorial evocativo do Prof. António Augusto Ferreira de Macedo (1887-1959), homenagem de Alunos e Amigos em 1986 e muitas árvores.
Está localizado bem próximo da Igreja, do Mercado e da Casa/Museu Fernando Pessoa, nosso próximo destino.
Foi inaugurada em 1993, foi a última residência do maior poeta português do século XX.
Na casa tem uma biblioteca onde estão as obras do poeta e os livros que leu. Não é permitido entrar na biblioteca, apenas chegar até a porta.
Na casa também tem o quarto do poeta, uma lojinha e obras de diversos artistas retratando-o, além de várias poesias, é claro.
Para informações de horário e preço, clique aqui. Em pouco tempo você conhece mais um importante museu da história de Portugal. Consulte o site antes da visita.
Passamos algumas horas bem tranquilas em Campo de Ourique, valeu muito ter conhecido mais este pedaço de Lisboa. Já era noite e voltamos para o nosso apartamento do Airbnb em Laranjeiras de transporte por aplicativo, pois Campo de Ourique ainda não tem metrô.
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